Em 1810, o rei bávaro Ludwig I (Luís I) decidiu organizar uma grande festança para celebrar seu casamento, um evento que durou dias e foi regado a música popular e muita cerveja. A comemoração teve tanto sucesso que foi repetida nos anos seguintes, iniciando-se sempre no primeiro sábado depois do dia 15 de setembro e encerrando-se tradicionalmente no primeiro domingo de outubro, durando uma média de 17 dias.
A celebração ficou conhecida como Oktoberfest, literalmente “Festival de Outubro” (apesar de ter seu início e a maior parte de sua duração no mês de setembro). Essa tradição teve grande influência no estilo de vida muniquense, estabelecendo o hábito de se acomodar ao lado de estranhos em uma mesa ao ar livre em noites quentes de verão, a ponto de afetar até a arquitetura da cidade e originar uma grande quantidade de espaços dedicados a evidenciar essa atmosfera, os afamados biergartens.
Hoje em dia, é o maior festival cervejeiro do mundo, e reúne cerca de seis milhões de pessoas todo ano, entre nativos e turistas – em comparação, a população de Munique totaliza cerca de um milhão e meio de pessoas. Atualmente, o festival evoluiu para uma celebração da cerveja em si e do folclore alemão, afastando-se de suas origens históricas, porém o clima de alegria, companheirismo e festa é tão querido que algumas “réplicas” da Oktoberfest original pipocaram mundo afora. No Brasil, a versão mais famosa é a de Blumenau, que já é considerada uma das maiores do mundo, embora haja também versões menores em São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul.

Os Lebkuchen, biscoitos decorados com mensagens de amor, são tradicionalmente presenteados a entes queridos e parceiros amorosos durante o festival. Foto: Pixabay.
A Oktoberfest de Munique acontece no Theresienwiese, um enorme gramado (Wiese) nomeado em homenagem à esposa de Ludwig I, Therese. Apesar do nome, não há muita grama por aqui; o chão é de cimento, e, quando não há eventos, o lugar atrai ciclistas, skatistas e patinadores que aproveitam a área plana para praticar acrobacias. Durante o festival, no entanto, a área é equipada com volumosas tendas e extensas mesas de madeira feitas para estranhos sentarem lado a lado, brindando suas canecas ao som de canções populares. É difícil não sorrir ao presenciar a alegria dos alemães, que revelam seu lado mais caloroso ao dançar e cantar ebriamente junto com as bandas.
As tendas pertencem a inúmeras cervejarias, porém só seis marcas são oficialmente reconhecidas como cervejas tradicionais da Oktoberfest: Paulaner, Hofbräu, Augustiner, Hacker Pschorr, Löwenbräu e Spatenbräu. Se você não virar um canecão da tenda de uma delas, não tomou a verdadeira cerveja da Oktoberfest! Só fique atento e beba com cautela: as cervejas são relativamente claras e podem não parecer fortes, mas tem teor alcoólico maior que estamos acostumados por aqui (a média lá é de 6%, enquanto as cervejas populares daqui costumam ter 5% ou menos) e cada caneca leva um litro da bebida – e não, não vendem em copos menores, mas as mais suaves radlers (cervejas misturadas com suco de limão) e cervejas sem álcool também estão disponíveis.

Barris de cerveja da Spatenbräu, uma das cervejarias oficiais da Oktoberfest. Foto: Pixabay.
O festival só começa quando o prefeito de Munique martela a torneira no primeiro barril de chope; antes disso, ninguém pode vender ou consumir a cerveja da festa! Existe até um recorde para o número de marteladas com as quais o prefeito consegue fazer a cerveja jorrar; quem conseguiu mais rapidamente é Dieter Reiter, atual prefeito da cidade, que só precisou de duas marteladas.
A Oktoberfest também nunca foi apenas sobre a cerveja (apesar de ser a grande atração), por isso até crianças podem participar até às 20h. Há também tendas e quiosques de comidas tradicionais alemães, como pretzels gigantes (no dialeto bávaro, “breze” e “brezen” no singular e plural, respectivamente), bratwurst, nozes e amêndoas glaceadas, obatzda (creme de queijo) e lebkuchen (aqueles biscoitos em formato de coração). O Theresienwiese também fica salpicado por atrações de parques de diversão, como carrosséis, rodas gigantes e várias opções de brinquedos rápidos e altos para quem quer algo mais radical.
Trajes típicos da Oktoberfest
Os festivais populares da Alemanha são os únicos momentos em que você verá os alemães vestindo-se à imagem do estereótipo que temos deles, então por que não entender um pouco mais sobre essas roupas? O termo geral para se referir a esse tipo de vestimenta é tracht (sim, de “traje” mesmo), e as palavras para os vestidos tradicionalmente femininos e para as calças tradicionalmente masculinas são dirndl e lederhosen, respectivamente. Os trajes são baseados nas roupas historicamente usadas por habitantes dos alpes, em especial camponeses e trabalhadores rurais.
Os dirndl são basicamente vestidos coloridos, geralmente com um laço ou renda firmando a parte do torso, e uma camiseta branca simples vestida por baixo. Os lederhosen são calças de couro, com suspensórios também de couro e barras geralmente na altura da canela, e são combinados com camisetas também simples de linho. Por ser de couro, o lederhosen era muito útil no trabalho rural e na prática de caça por seus usuários, visto que o material é fácil de limpar.

Na foto, versões modernas dos típicos Lederhosen e Dirndl. Foto: Pixabay.
Hoje em dia, o uso dessas roupas se limita a eventos populares ou peças teatrais, portanto a estética se tornou um aspecto muito mais importante do que antes, quando a praticidade e conforto dos trabalhadores era prioridade. Adquirir qualquer uma dessas roupas pode ser um pouco caro, mas com certeza traz um novo nível de apreciação e envolvimento no Oktoberfest, aproximando sua experiência à dos locais.