Seja na primeira visita à Baviera, seja na centésima, você vai querer passear pelo vívido centro histórico da Cidade Velha de Munique, ou Altstadt. Aqui ficam grande parte dos prédios memoráveis da cidade, reconstruídos após os bombardeios da Segunda Guerra Mundial. Graças ao planejamento urbano coordenado pelos antigos reis bávaros – e também por líderes mais modernos da Baviera –, o centro é deliciosamente fácil de explorar, estruturado em grandes áreas abertas, promenades exclusivas para pedestres e sequências de comércios cercando as atrações e prédios históricos.

Na Cidade Velha de Munique, os lugares ficam tão próximos uns dos outros que, dependendo do seu ritmo, é possível visitar todos os pontos imperdíveis em uma única caminhada, ou estender um pouco o trajeto e conhecer todo o centro em um dia só.

Comece pela Marienplatz, que é como o marco zero da cidade. Nessa praça encontra-se a Neues Rathaus, a nova prefeitura. Há também uma antiga prefeitura, igualmente localizada na Marienplatz, que não tem mais nenhuma função administrativa real, entretanto permanece como um edifício representativo do conselho municipal e patrimônio da cidade.

A nova prefeitura conta com um espetáculo diário da torre do relógio, composto por pitorescas figuras mecânicas de personagens, cavalos e cavaleiros, movimentando-se graças ao mecanismo que sustenta os suportes das estatuetas. Há dois níveis na torre, cada um deles narrando uma história genuinamente muniquense e acompanhada pelas melodias criadas pelos 43 sinos da torre. O processo de criação de música através do carrilhão de sinos é conhecido por glockenspiel, que é o termo usado pelos locais para se referir ao espetáculo. O teatro mecânico acontece diariamente às 11h e 12h, e também às 17h nos meses de verão, quando as tardes alemãs ainda desfrutam da claridade do sol.

 

Figuras mecânicas no espetáculo da Neues Rathaus na Marienplatz, Munique. Foto: Divulgação.

 

No nível superior, as estatuetas encenam a celebração do casamento de Wilhelm V, ocasião em que organizou um torneio medieval de cavalaria onde o representante bávaro triunfou sobre o cavaleiro francês natural de Lorraine. A sensação de encantamento ao observar a apresentação e ouvir os sinos do glockenspiel é intensificada pelas reações das pessoas em volta, que se agrupam na Marienplatz e esticam os pescoços para ver o cavaleiro alemão derrubar o francês com sua lança.

No nível de baixo, as figuras dançam e rodopiam, simbolizando a comemoração do fim de uma epidemia de peste do século XVI, quando fabricantes de barris, chamados Schäffler, ou Fassmacher, em alemão, saíram às ruas para dançar e aliviar o medo do povo. Essa dança é chamada de Schäfflertanz (literalmente, dança dos fabricantes de barris), e se tornou uma performance tradicional feita não só pelas estatuetas, mas também pelo povo de Munique, que a cada sete anos organiza esta celebração para relembrar os tempos sombrios da peste europeia. A próxima seria em 2026, mas os dançarinos já expressaram seu desejo em adiantar a dança para celebrar a vitória contra a COVID-19, e estão esperando o momento certo para sair às ruas e anunciar aos cidadãos que a “peste” mais recente foi superada.

Da praça é possível visualizar a igreja mais importante de Munique: a Frauenkirche, catedral construída na era medieval e completada em apenas 20 anos. Esse curto tempo de construção faz dela uma das mais coesas construções da cidade em questão de estilo arquitetônico, com predominância quase total de elementos góticos. Os elementos mais proeminentes fora do estilo gótico são os dois domos que adornam suas torres, finalizados no século XVI (ao contrário do resto da igreja, construída no século XV). 

 

A Neues Rathaus (Nova Prefeitura), à direita, e a Frauenkirche, à esquerda, lado a lado. Foto: Timo A., Pexels.

 

Dentro, turistas podem se admirar com a “pegada do Diabo”, uma pegada marcada no chão que acompanha uma lenda: supostamente, o supervisor da construção da igreja fez um trato com o Diabo em 1468, para subjugar dificuldades financeiras e angariar os fundos necessários para a compleição do edifício. Em troca, o Diabo teria pedido que a igreja fosse erguida sem janelas, tornando-se um templo dedicado à escuridão. Ao entrar, ficou satisfeito por não enxergar janela alguma, mas ao perceber que as janelas estavam obstruídas pelas colunas internas da igreja, ficou furioso, pisoteando o chão e deixando sua pegada. Claro, tudo nessa história cheira a armadilha para turistas, porém ainda é interessante conhecer a cultura e receber essa curiosidade como parte da atração.

Na outra extremidade da Marienplatz, ao lado da velha prefeitura, encontra-se a Peterskirche, outra catedral de grande importância histórica, visto que é a mais antiga igreja dentro da Cidade Velha de Munique. Foi construída no século XIV sobre as bases de um monastério beneditino do século nono (d.C.). É famosa por ter oito relógios na torre do sino, a qual foi acrescentada posteriormente ao prédio principal e tem estilo renascentista, destoando da arquitetura romântica do resto do edifício. A torre da igreja pode ser alcançada e provém vistas incríveis do topo da cidade.

Seguindo nessa direção e rumando um pouco ao norte, é fácil chegar no que pode ser a área mais turisteira da Cidade Velha, as ruelas de lojas e restaurantes onde podemos encontrar o Hofbräuhaus am Platzl, o grande salão cervejeiro que foi fundado pessoalmente pelo duque bávaro Wilhelm V. Antes considerado a cervejaria real, hoje é uma cervejaria estatal, um conceito que só poderia existir na Alemanha, país da cerveja. 

Desde aquela época, a marca Hofbräu se popularizou e hoje há várias casas Hofbräu espalhadas pelo mundo, inclusive no Brasil, porém a de Munique é a original, e já acumula cerca de 400 anos de idade e tradição. Tem uma atmosfera pesada de turismo, visto que o lugar busca replicar a sensação do Oktoberfest, com os tradicionais quartetos de sopro alemães onde os músicos vestem Lederhosen e chapéus tirolês (aqueles verdinhos com uma pena do lado, sabe?).

 

A atmosfera do Hofbräuhaus é feita para encantar os turistas com aquele gostinho dos estereótipos alemães. Foto: Divulgação.

 

A Platzl, nome da praça onde se encontra o Hofbräuhaus, é um lugar encantador, com a carinha da Baviera. Os prédios ali são antigos e ficam colados uns nos outros, fazendo desta parte da cidade um cantinho muito agradável para pedestres. No andar térreo dos prédios históricos, diversos restaurantes, lojinhas e outros comércios dominam as fachadas – e também uma porção da rua, acomodando seus clientes em mesinhas e bancos na frente das portas. 

E se você já não aproveitou para fazer uma parada para o almoço por ali mesmo, siga para o sul da Cidade Velha para conhecer o melhor da comida de rua e alimentos frescos de Munique. O Viktualienmarkt é uma grande feira recheada de barraquinhas vendendo carnes, peixes, a famosa bratwurst (clássica linguiça alemã) e frutas frescas (difíceis de encontrar na Alemanha devido ao clima frio). Aproveite para experimentar pratos tradicionais da Baviera, como o creme de queijos Obatzda ou o rolo de carne Leberkäse, servido com pão, ou ainda tome um copo de suco fresco em um dos estandes de frutas. 

A feira também tem seu próprio biergarten em meio às barraquinhas, onde você pode levar toda a comida que comprou e complementar com uma caneca de cerveja direto do barril – em Munique, há uma lei que permite que clientes de biergartens consumam sua própria comida, desde que não tragam suas próprias bebidas à mesa.

 

Vegetais fresquinhos à venda em uma das barraquinhas do Viktualienmarkt. Foto: Pixabay.

 

Para fechar a tarde, volte ao ponto de partida e ande pela rua Neuhauserstraße, a promenade que liga a Marienplatz à Karlsplatz, praça nomeada em homenagem ao príncipe-eleitor Karl Theodor (foi ele mesmo que escolheu o nome, aliás). A caminhada não chega a durar dez minutos, e o trajeto repleto de lojas e cafés atrai turistas e nativos pela atmosfera vibrante do lugar. 

Após passar através do Karlstor, um dos grandes portões remanescentes da antiga muralha que circundava Munique, a larga avenida de pedestres segue até a Karlsplatz, e as torres da Frauenkirche podem ser avistadas por trás das lojas e prédios durante o caminho entre as duas praças.

A Karlsplatz ainda é conhecida pelos locais por outro nome, Stachus, em homenagem a Eustachius Föderl, dono da taverna regional Beim Stachus (“No Stachus”, em alemão). Raramente você verá um muniquense se referir ao local por seu nome oficial; na verdade, Stachus é tão comum que até os bondes e os trens do metrô anunciam a paragem por seu apelido ao passar pela Cidade Velha de Munique.