Por Shoichi Iwashita

A grandiosidade dos números que descrevem a riqueza da Amazônia — e todas as conexões complexas e interdependentes que formam esse bioma — são praticamente ininteligíveis para o nosso cérebro. É impossível assimilar a dimensão dos 7.000.000 de quilômetros quadrados espalhados por nove países da América do Sul; dos 25.000 quilômetros de rios com centenas de milhares de metros cúbicos de água que equivalem a 20% da água doce líquida do mundo (e que formam a maior bacia hidrográfica da Terra); as mais de 175 mil espécies de plantas e animais catalogados, sem contar os ainda não estudados (segundo cientistas, só de vírus desconhecidos seriam mais de dois milhões); e, por fim, os mais de 400 povos indígenas que falam 86 idiomas e 650 dialetos. Não à toa, a Amazônia é o bioma com a maior biodiversidade do planeta; um conjunto de ecossistemas do qual depende não só o equilíbrio do clima no Brasil, mas a vida na Terra.

Em uma escala mais “humana”, a Amazônia encanta. Aproveitar uma das centenas de praias desertas que se formam nas 400 ilhas do arquipélago de Anavilhanas, quando o rio Negro “seca” e o nível da água abaixa até 15 metros, é uma das experiências a não perder. Nadar nas águas pretas ou marrons dos rios amazônicos e sentir um boto passando por entre suas pernas ou ver esses golfinhos de água doce nadando em bando enquanto você pratica stand-up paddle é daquelas sensações que ficam entre o susto e a euforia. Assim como é fazer trilhas em meio à mata nativa e aprender sobre sobrevivência (porque o hospital mais próximo está a horas de distância), ou ainda visitar comunidades indígenas, caboclas, quilombolas e ribeirinhas que te fazem refletir sobre sua própria existência como cidadão e ser humano.

No paladar, a riqueza da natureza se reflete no que talvez seja o mais próximo de uma gastronomia autêntica brasileira. Se nas comunidades andinas, as centenas de variedades de milho são a base da alimentação, na Amazônia, a mandioca sempre reinou. Essa planta tuberosa, originária da própria Amazônia — e tão venenosa que pode ser letal — foi domesticada há nove mil anos pelos indígenas e pode ser consumida de muitas e muitas formas: como diversos tipos de farinha (seca, d’água, beiju etc.), como polvilho azedo, como goma, fécula, tapioca, tucupi… Aí, tem as frutas, como os já célebres guaraná, açaí e cupuaçu, mas também o tucumã, o camu-camu, o bacuri, o taperebá, e os peixes de rio que já tomaram os restaurantes gastronômicos do país, como o tambaqui, o pirarucu, o matrinxã…

Com os sentidos — e o coração — abertos, ninguém volta o mesmo de uma imersão na Amazônia.