Por Laís Ribeiro

Três características qualificam Fernando de Noronha como o destino de sonho de muitos brasileiros. A primeira é simples: todo brasileiro gosta de uma boa praia, e “boa” é um eufemismo para a beleza natural das enseadas do arquipélago. Aqui ficam as praias premiadas internacionalmente, que entremeiam os ranks de “praias mais bonitas do mundo”, como a Baía do Sancho, eleita A melhor praia do mundo quatro vezes diferentes, e nunca saindo do escopo das top cinco melhores. Mesmo em listas limitadas ao Brasil, Noronha sempre se destaca, ocupando pelo menos três posições com a já mencionada Sancho, a Baía dos Porcos e a Praia do Leão.

Areias branquíssimas, águas que transitam do verde mais esmeralda ao azul profundo mais intenso, passando por todas as definições de turquesa das paletas de cores mundo afora sempre na média de temperatura dos 26 ºC. Vegetação tropical verdejante cerca todas as praias, e a geografia recortada da ilha emoldura toda a costa com desenhos que só poderiam ter sido criados pelas forças da natureza — ou, mais especificamente, pelas forças das erupções vulcânicas que trouxeram o solo noronhense à superfície 12 milhões de anos atrás, e só deixaram de agitar a terra há 1,5 milhão de anos. 

O arquipélago é composto por 21 ilhas, ilhotas e rochedos. São 26 quilômetros quadrados no total, dos quais 17 são da ilha principal, que é também a única habitada (população: 3.500 ilhéus). O entorno marinho é de uma profundidade impressionante, e se difere de praias do continente por ter uma queda muito brusca em direção ao mar, ao invés daquele caminho que vai afundando aos poucos com o que estamos acostumados. Lá no fundo, a base da formação rochosa está 4.200 metros abaixo do nível do mar. É um paraíso para mergulhadores experientes e amadores, que encontram naufrágios em ótimo estado de preservação desde 10 a 60 metros de profundidade, brindados com a visibilidade maravilhosa de Fernando Noronha.

Não é à toa que este arquipélago brasileiro foi declarado Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO em 2001. Mesmo com as limitações impostas ao turismo pelo Parque Marinho, as pessoas passam horas na fila do centro de visitantes para tentar garantir vagas para apreciar as vistas panorâmicas de trilhas como a da Atalaia e a do Capim-Açu, que não são feitas para os sedentários, mas recompensam os andarilhos com o mais cristalino aquário natural e uma piscina marinha dentro de uma caverna, respectivamente.

Vista aérea da Baía do Sancho, em Fernando de Noronha.

Baía do Sancho, a melhor praia do mundo. Foto: Assessoria Noronha/Antônio Melcorp.

O que nos leva ao segundo aspecto do sonho de viajar para Noronha: o lugar é tão vibrante com vida acima e abaixo da superfície do mar que parece ser o próprio paraíso na terra, onde animais e seres humanos atingiram a harmonia. É praticamente impossível nadar nas águas da Baía do Sueste sem ser acompanhado por tartarugas marinhas, tubarões-limão juvenis e adultos, arraias deslizantes e as mais diversas espécies de peixes e crustáceos. 

As operadoras de barcos e canoas havaianas até anunciam sem medo na hora de vender seus produtos, “90% de chance de ver golfinhos durante o passeio!”, porque sabem que estão certos: os brincalhões golfinhos-rotadores aparecem certeiros pulando ao lado das embarcações, marcando a memória dos espectadores com o momento mais emocionante da experiência Noronha (será que foi isso que a Marquezine quis dizer com “noronhe-se”? Bom, para mim agora é).

Decerto que a maior riqueza de Fernando de Noronha fica debaixo d’água, mas não ignore as belezas terrestres também. Tomada pela típica vegetação nordestina do Agreste, a ilha acumulou algumas espécies endêmicas de árvores e animais ao longo de seus anos no isolamento do Atlântico. Noronha não é Noronha sem a constante presença do lagartinho mabuia, identificado por suas escamas levemente iridescentes e seu curioso hábito de se alimentar do néctar das flores do mulungu, árvore de tronco e copa volumosos que também tem variação única no arquipélago. Esse costume, aliás, faz do mabuia um dos únicos répteis em todo o planeta que atuam como polinizadores, simbolizando toda a riqueza noronhense em sua simpática carinha escamosa.

Lagarto mabuia sobre uma pedra em Noronha.

Essa é a carinha de quem sabe que é adorado pelos turistas que chegam na ilha. Foto: Assessoria Noronha/Antônio Melcorp.

Infelizmente, Fernando de Noronha também é um destino de sonho por ser, para muitos, inatingível. É um destino caro e burocrático. Um destino de natureza, com trilhas, mergulhos, nado no mar e ar puro, mas também restringido por regras e taxas ambientais, onde até as vagas são limitadas desde os assentos nos aviões, limitados a duas companhias aéreas, até as próprias atrações: é difícil encontrar mais de 20 pessoas pegando sol em uma mesma praia. 

A taxação é necessária para preservar a natureza e evitar a degradação ambiental causada pelo turismo de massa, no entanto esse tipo de exclusividade acabou se tornando mais um atrativo da ilha, especialmente para os famosos que frequentam e até adquirem propriedades por lá. O resultado é uma cultura de luxo e preços super-inflacionados, onde a média das diárias passa da faixa dos R$ 1.000 e até a cervejinha arranca R$ 20 do seu bolso. Já viu aqueles levantamentos de “destinos mais caros” feitos por sites de hotelaria, como o Trivago? Pois é, Noronha costuma figurar em primeiro ou em alguma posição do topo da lista.

Para aproveitar o paraíso, há regras, muita burocracia e um custo monetário alto, mas se puder, vá. Fernando de Noronha tem uma beleza singular, e não importa se você ficará no hotel com a vista mais linda do Morro do Pico ou em uma das pousadas domiciliares, o azul do mar terá a mesma intensidade e os golfinhos pularão com a mesma energia. A natureza recebe todos da mesma maneira, e a única coisa que precisamos fazer em troca é respeitar e preservá-la.