Por Laís Ribeiro

Com suas lindas praias e diversidade animal, é até fácil esquecer que Fernando de Noronha também tem suas peculiaridades. É bastante sabido, por exemplo, que mulheres grávidas não podem dar a luz na ilha, devido à falta de uma ala de maternidade no pequeno hospital. Saiba mais sobre outras particularidades da vida noronhense abaixo.

 

Pulseiras discriminatórias

Pulseira eletrônica de carregamento pré-pago de dinheiro.

Exemplo de pulseira eletrônica pré-paga. Foto: divulgação.

Fernando de Noronha é conhecida por ter problemas com a conexão de Internet, interferindo não só na comunicação, mas principalmente nas máquinas usadas para pagamentos feitos com cartões. 

Por esse motivo, em 2021, uma parceria entre o governo e as empresas privadas grupo Meep e PagSeguro divulgou a iniciativa Sou Noronha, uma nova tecnologia de compra via pulseiras eletrônicas, que seriam implantadas como meio de pagamento via crédito pré-pago sem necessidade de conexão com a Internet, em substituição aos cartões de crédito. O grupo Meep chama as pulseiras de passaportes, e as caracteriza como “moeda única de Noronha”. 

A ideia é ótima e possibilitaria a flexibilização e democratização dos pagamentos pelo consumo, porém junto a ela, veio também a proposta de diferenciar os portadores das pulseiras por cores de acordo com a quantidade de créditos inseridos. Ou seja, visibilizando a segregação entre visitantes conforme seu poder aquisitivo. Para piorar, celebridades e influenciadores digitais também receberiam pulseiras de cor diferenciada, que concederiam benefícios como acessos garantidos e exclusivos a restaurantes, descontos, entre outros. 

Felizmente, a proposta original foi abortada. O projeto continuará, mas com nova proposta de apenas duas cores de pulseiras: verde para moradores e turistas, e cinza para comerciantes. A diferenciação vem com o intuito de facilitar a identificação dos comerciantes para que os turistas saibam onde e com quem adquirir créditos.

 

Dá pra morar em Noronha?

Nesse sentido, Fernando de Noronha parece ser seu próprio país. Para morar em Noronha, você precisa 1) ser noronhense; 2) ser casado com um noronhense ou 3) trabalhar em Noronha, sendo que essa última opção não garante a moradia permanente, apenas enquanto durar o vínculo empregatício (não importa quão longo ele seja). É até comum que algumas pessoas tentem burlar o pagamento das taxas ambientais ao serem “contratadas” por amigos, e acabam permanecendo na ilha durante a “contratação”.

Como, então, personalidades ricas e famosas conseguem comprar propriedades por lá? Para adquirir ou construir propriedades em Noronha, essas pessoas costumam abrir negócio em sociedade com algum residente da ilha, que é registrado como o proprietário oficial do terreno. É o caso do ator global Bruno Gagliasso, que abriu a Pousada Maria Bonita e costuma fazer visitas frequentes à ilha junto com sua esposa.

 

Noronha contra o Plástico

O uso de recipientes e embalagens de plástico é proibido desde 2019 na ilha, incluindo até garrafinhas de água (abaixo de 500 ml). No entanto, devido à pandemia, a fiscalização foi impedida, e nenhuma multa foi aplicada no ano de 2020, o que acabou relaxando turistas mesmo com a lei ainda em vigor. 

O governo retomou o trabalho em agosto de 2021, e vai aplicar multas, que podem chegar a 22 mil reais em infrações graves, a partir da segunda notificação. A entrada na ilha com porte de canudos, sacos plásticos, garrafinhas, recipientes de isopor ou plástico e pratos e talheres descartáveis constituirá infração gravíssima, sendo aplicada imediatamente a primeira notificação.

 

De barco é mais caro

Como é transportar suprimentos para uma ilha no meio do Atlântico? Com certeza, um serviço muito custoso. Noronha não tem um porto grande, devido à sua diminuta população e pouca frequência de visitantes, portanto não vale a construção de um. Assim, o Porto de Santo Antônio precisa receber todos os mantimentos (comida, combustível, materiais), porém não tem estrutura para receber grandes navios de carga, que seriam mais econômicos que os barcos de pequeno porte utilizados atualmente, encarecendo consideravelmente todo o processo. Para completar, alguns tipos de alimentos frescos, como laranjas, tomates e cebolas, precisam ser levados à ilha por meio de aviões, o mais caro modal de transporte no Brasil.

 

A luta para preservar a natureza

Imagem do peixe-leão contra um fundo preto.

O peixe-leão, espécie invasora que pode desequilibrar o ecossistema de Noronha.

Apesar de todos os esforços para preservar o ecossistema frágil de Noronha, não faltam notícias sobre tragédias ou perigos ambientais advindos de outras partes do mundo. Anos após a contaminação de óleo que aconteceu em toda a costa nordestina em 2019 — ainda sem resolução, aliás —, manchas de óleo foram encontradas também nas areias do arquipélago.

Em agosto de 2021, foram retirados 900 quilos de piche somente entre os dias 13 e 15 do mês, em uma força-tarefa organizada em conjunto pelo ICMBio, o Projeto Tamar, a Força Aérea e a Marinha. Nessa mesma ocasião, foram avistadas também seringas e ampolas em meio aos dejetos. Também não é incomum a coleta de lixo marinho nas praias originados de outros continentes, e já foram encontradas garrafinhas e outros materiais de origem europeia e arábica.

Outras notícias preocupantes incluem a chegada de espécies invasoras no mar de Noronha. Em agosto, foram encontrados espécimes de peixe-leão. O peixe é de natureza predatória, e pode acabar afetando o ecossistema da região ao se alimentar de peixes nativos, diminuindo a população tanto das presas como de outros predadores, por causar competição por alimento.

Uma das teorias da chegada do peixe-leão é que ele veio do norte, do mar caribenho, onde também é uma espécie invasora. Biólogos pedem a mergulhadores que se atentem à espécie, assim como outras espécies incomuns na região, e avisem autoridades da ilha.