Por Letícia Vanelli

A gastronomia de Montpellier, “Montpelliérain” para os mais chegados, não pode ser reduzida a alguns pratos. Aqui, não existe uma especialidade, mas, sim, uma cultura culinária. As receitas típicas sobreviveram os séculos, oferecendo os melhores sabores em apenas uma refeição

Nesta pequena cidade sulista, você pode começar com uma tapenade de azeitonas com a particularidade de ser servido sem anchovas e alcaparras. Se o tira-gosto não for suficiente para você, vá sem medo na explosão de sabores do tartin de foie gras com maçãs caramelizadas importadas de Vigan, cidade próxima a Montpellier. Já para a entrada o cordeiro assado com canela e acompanhado de Porcini, uma espécie de cogumelos selvagens, caem como uma luva. 

Por fim, a refeição fecha com chave de ouro com algumas oreillettes, um pastel doce com toque de flor de laranjeira ou, para os mais ousados, um pedaço do queijo Pélardon, feito do leite de cabra colhido no cerrado de Montpellier. Sim, comer uma fatia de queijo é muito comum nas refeições francesas. Por isso, não se assuste.

COMO SURGIU A CULINÁRIA LOCAL?

Nove das 44 receitas locais que definem a gastronomia de Montpellier foram inventadas por Jean-Jaques Régis de Cambacérès. Por incrível que pareça, Cambacérès era o chanceler chefe no império de Napoleão Bonaparte, mas tudo mudou quando se tornou responsável pelos jantares oficiais no Palácio do Eliseu. Cambacérès dizia a Bonaparte que a diplomacia era conquistada “em grande parte pela mesa que governamos”. Em outras palavras, era como se a gastronomia fosse uma importante aliada para selar acordos. 

Assim, duas vezes por semana, o anfitrião recebia entre 40 a 50 convidados ilustres para um dos mais luxuosos banquetes em Paris. Não demorou muito para que sua fama se estabelecesse por todo o país. Por mais que sua história tenha sido construída em Paris, o chanceler é de Montpellier, o que causou muito orgulho para a história da cidade, pois as receitas locais eram oferecidas nos grandes jantares políticos. 

Por mais requintada que fosse esses banquetes, as especiarias como açafrão, gengibre, pimenta, cravo, canela, noz-moscada davam um toque final nos sabores. Essa mistura é a grande particularidade desta cozinha. As especiarias possuem forte apelo, pois, durante a idade média, Montpellier possuía um ponto comercial em Trípoli, atual Líbano, a qual foi responsável por importar estes temperos para as receitas perpetuadas por muitas gerações.