Por Carolina Varella

Reza a lenda que enquanto o brasileiro sonha em ser jogador de futebol, por aqui o sonho é ser chef de cozinha e ser intitulado de um dos inúmeros restaurantes estrelados espalhados pela cidade, ou até de qualquer outro restaurante – porque só de fazer parte desse polo gastronômico existe um potencial especulativo que legitima o valor da sua culinária, faz sentido? Claro, não serão todos os restaurantes que te oferecerão um prato inesquecível, mas há quem diga que nenhum ceviche se compara aos servidos nas ruas de Lima, por exemplo.

Foram muitas as razões que tornam essa região tão popular gastronomicamente e tudo começa por sua particularidade geográfica, repleta de microclimas que proporcionam diferentes tipos de ingredientes. Essa realidade se dá devido a corrente de Humboldt (corrente do Peru), que introduz na água uma elevada piscosidade, água essa que, por sua vez, — devido ao impulsionamento eólico– emerge para a superfície e leva consigo os nutrientes. Este é o fenômeno que assegurou ao Peru as terras mais produtivas do mundo. 

A população andina soube utilizar bem do meio e foi considerada como a maior domesticadora de plantas do mundo antigo – além de outros saberes culinários impressionantes. Acontece que esses “saberes” foram renegados com a chegada dos europeus que não os mencionaram na Bíblia e os afastaram do conhecimento popular. 

Contudo, nos últimos anos Lima vem resgatando as memórias de sua culinária ancestral – como a quinoa, a maca ou patata- , incorporando-as nos pratos junto a outras heranças culinárias provindas da África (escravos), Ásia (chineses e japoneses) e Europa (espanhóis, franceses e italianos) acumuladas ao longo dos séculos. Essa consolidação da identidade peruana somada aos traços culinários de outros três continentes, impulsionou o grande salto de Lima como capital gastronômica em 2007. 

 

MUITOS SABORES… E VALORES!

Dentro dos restaurantes, nos mercados ou até mesmo nas ruas você poderá provar de comidas que são por si só uma experiência completa e já valem a visita a Lima. Opção é o que não falta para carnívoros, vegetarianos, veganos, alérgicos…  Aliás, as comidas no Peru costumam ser mais baratas do que no Brasil e com o peso peruano um pouco desvalorizado em relação real, você pode  ficar mais ‘mão solta’ e realmente aproveitar um dos aspectos mais celebrados dessa cidade. Há restaurantes estrelados que vão te cobrar um valor bem alto como o Maido, o Central e o Kjolle mas, por aqui, sempre haverá a opção deliciosa e mais em conta, basta procurar. 

A culinária é tão consagrada em Lima que deu vida ao festival Mistura, a feira gastronômica mais importante da América Latina que acontece todo ano por lá. São mais de 350 participantes ao redor do Peru, contabilizando mais de 50 restaurantes, 70 carrinhos de mão, 16 cozinhas rústicas e regionais e bebidas de todos os tipos, a serem apresentadas no Campo de Marte na primeira metade do mês de setembro.  O festival também organiza premiações. Incrível, né?